terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Arrecifes...

Amados amigos, queridos alunos e distintos leitores,
Sem muito me alongar, teço aqui uma homenagem à minha cidade, que a despeito de também ser Resífilis - a venérea brasileira - e de todo odor de capivaras se putrefazendo no rio, o que me faz lembrar de um tempo (que eu não vivi!) em que meu avô expelia a cidade inteira com uma dose de cado-de-cana e penicilina, é também o Recife calcário de Cabral, o Recife luminoso de Cardozo, o Recife malassombrado de Ascenso, o Recife-menino de Bandeira e o Recife azul de Pena Filho! Seguem poemas conhecidíssimos desses grandes recifenses... mas não dá para parar de ler!
Arrecifes de João Cabral de Melo Neto:

Aqui o mar é uma montanha
regular redonda e azul,
mais alta que os arrecifes
e os mangues rasos ao sul.

Do mar podeis extrair,
do mar deste litoral,
um fio de luz precisa,
matemática ou metal.

Na cidade propriamente
velhos sobrados esguios
apertam ombros calcários
de cada lado de um rio.

Com os sobrados podeis
aprender lição madura:
um certo equilíbrio leve,
na escrita, da arquitetura.

E neste rio indigente,
sangue-lama que circula
entre cimento e esclerose
com sua marcha quase nula,

e na gente que se estagna
nas mucosas deste rio,
morrendo de apodrecer
vidas inteiras a fio,

podeis aprender que o homem
é sempre a melhor medida.
Mais: que a medida do homem
não é a morte mas a vida.

Arrecifes de Joaquim Cardozo:

Por degrau de arenitos e de coral
Do Recife se desce para o fundo do mar,
Para a noite do mar.

Onde ficam as minas de ágata?
As jazidas maiores de calcedônia?
Que se estão se diluindo nessas águas,

Nesse mar. Nesse mar,
Um céu com arco-íris e ocasos,? Um céu?
Caiu nesse mar.

Arrecifes de Ascenso Ferreira:

Sozinho, de noite,
nas ruas desertas
do velho Recife
que atrás do arruado
moderno ficou...
criança de novo
eu sinto que sou:

- Que diabo tu vieste fazer aqui, Ascenso?

O rio soturno
tremendo de frio,
com os dentes batendo
nas pedras do cais,
tomado de susto
sem poder falar...
o rio tem coisas
para me contar:

- Corre, senão o Pai-do-Poço te pega, condenado!

Das casas fechadas
e mal-assombradas
com as caras tisnadas
que o incêndio queimou
pelas janelas esburacadas
eu sinto, tremendo,
que um olho de fogo
medonho me olhou:

- Olha que o Papa-Figo te agarra, desgraçado!

Dos brutos guindastes
de vultos enormes
ainda maiores
nessa escuridão...
os braços de ferro,
pesados e longos,
parece quererem
suster-me do chão!

- Ai! Eu tenho medo dos guindastespor causa daquele bicão!

Sozinho, de noite,
nas ruas desertas
do velho Recife
que atrás do arruado
moderno ficou...
criança de novo
eu sinto que sou:

- Larga de ser vagabundo, Ascenso!

Arrecifes de Manuel Bandeira:

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repentenos longos da noiteum sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
- Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
- Capibaribe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse! Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Arrecifes de Carlos Pena Filho:

No ponto onde o mar se extingue
e as areias se levantam
cavaram seus alicerces
na surda sombra da terra
e levantaram seus muros
do frio sono das pedras.
Depois armaram seus flancos:
trinta bandeiras azuis
plantadas no litoral.
Hoje, serena, flutua,
metade roubada ao mar,
metade à imaginação,
pois é do sonho dos homens
que uma cidade se inventa.
Abraços n'alma!
Marcos de Andrade Filho
Recife, 11 de dezembro de 2007

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Bandeira: a poética da vida inteira

Amados amigos, queridos alunos e distintos leitores,

Abaixo, vocês encontrarão a Bio-bibliografia de Manuel Bandeira (PARTE 1) e uma análise breve que fiz do trajeto poético de toda uma vida que podia ter sido e que foi, graças à Literatura (PARTE 2). Espero que seja um reencontro para velhos amigos, uma referência a mais aos alunos e mais um mergulho aos leitores da obra do mestre de Pasárgada, esse menino que não quer outra coisa a não ser pôr seus chinelinhos atrás da porta, andar de bicicleta, deitar na beira do rio, cuidar de seu porquinho-da-Índia, enfim... vida, noves fora zero!

Abraço n'alma!

Marcos de Andrade
Recife, 29 de novembro de 2007

Manuel Bandeira: a poesia de uma vida inteira - PARTE 1







Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, na Rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passa dois verões em Petrópolis.
Em 1892 a família volta para Pernambuco. Manuel Bandeira freqüenta o colégio das irmãs Barros Barreto, na Rua da Soledade, e, como semi-interno, o de Virgínio Marques Carneiro Leão, na Rua da Matriz.
A família mais uma vez se muda do Recife para o Rio de Janeiro, em 1896, onde reside na Travessa Piauí, na Rua Senador Furtado e depois em Laranjeiras. Bandeira cursa o Externato do Ginásio Nacional (atual Colégio Pedro II). Tem como professores Silva Ramos, Carlos França, José Veríssimo e João Ribeiro. Entre seus colegas estão Sousa da Silveira e Antenor Nascentes.
Em 1903 a família se muda para São Paulo onde Bandeira se matricula na Escola Politécnica, pretendendo tornar-se arquiteto. Estuda também, à noite, desenho e pintura com o arquiteto Domenico Rossi no Liceu de Artes e Ofícios. Começa ainda a trabalhar nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana, da qual seu pai era funcionário.
No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim.
"... - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."
Em 1910 entra em um concurso de poesia da Academia Brasileira de Letras, que não confere o prêmio. Lê Charles de Guérin e toma conhecimento das rimas toantes que empregaria em Carnaval.
Sob a influência de Apollinaire, Charles Cros e Mac-Fionna Leod, escreve seus primeiros versos livres,em 1912.
A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em junho de 1913 para a Europa. No mesmo navio viajam Mme. Blank e suas duas filhas. No sanatório conhece Paul Eugène Grindel, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Paul Éluard, e Gala, que se casaria com Éluard e depois com Salvador Dali.
Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em outubro. Lê Goethe, Lenau e Heine (no sanatório reaprendera o alemão que havia estudado no ginásio). No Rio de Janeiro, reside na rua Nossa Senhora de Copacabana e na Rua Goulart.
Em 1916 falece sua mãe, Francelina. No ano seguinte publica seu primeiro livro: A cinza das horas, numa edição de 200 exemplares custeada pelo autor. João Ribeiro escreve um artigo elogioso sobre o livro. Por causa de um hiato num verso do poeta mineiro Mário Mendes Campos, Manuel Bandeira desenvolve com o crítico Machado Sobrinho uma polêmica nas páginas do Correio de Minas, de Juiz de Fora.
O autor perde a irmã, Maria Cândida de Souza Bandeira, que desde o início da doença do irmão, havia sido uma dedicada enfermeira, em 1918. No ano seguinte publica seu segundo livro, Carnaval, em edição custeada pelo autor. João Ribeiro elogia também este livro que desperta entusiasmo entre os paulistas iniciadores do modernismo.
O pai de Bandeira, Manuel Carneiro, falece em 1920. O poeta se muda da Rua do Triunfo, em Paula Matos, para a Rua Curvelo, 53 (hoje Dias de Barros), tornando-se vizinho de Ribeiro Couto. Numa reunião na casa de Ronald de Carvalho, em Copacabana, no ano de 1921, conhece Mário de Andrade. Estavam presentes, entre outros, Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda e Osvaldo Orico.
Inicia então, em 1922, a se corresponder com Mário de Andrade. Bandeira não participa da Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro em são Paulo, no Teatro Municipal. Na ocasião, porém, Ronald de Carvalho lê o poema "Os Sapos", de "Carnaval". Meses depois Bandeira vai a São Paulo e conhece Paulo Prado, Couto de Barros, Tácito de Almeida, Menotti del Picchia, Luís Aranha, Rubens Borba de Morais, Yan de Almeida Prado. No Rio de Janeiro, passa a conviver com Jaime Ovalle, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Prudente de Morais, neto, Dante Milano. Colabora em Klaxon. Ainda nesse ano morre seu irmão, Antônio Ribeiro de Souza Bandeira.
Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo.
A serviço de uma empresa jornalística, em 1926 viaja para Pouso Alto, Minas Gerais, onde na casa de Ribeiro Couto conhece Carlos Drummond de Andrade. Viaja a Salvador, Recife, Paraíba (atual João Pessoa), Fortaleza, São Luís e Belém. No ano seguinte continua viajando: vai a Belo Horizonte, passando pelas cidades históricas de Minas Gerais, e a São Paulo. Viaja a Recife, como fiscal de bancas examinadoras de preparatórios. Inicia uma colaboração semanal de crônicas no Diário Nacional, de São Paulo, e em A Província, de Recife, dirigido por Gilberto Freyre. Colabora na Revista de Antropofagia.
1930 marca a publicação de Libertinagem, em edição como sempre custeada pelo autor. Muda-se, em 1933, da Rua do Curvelo para a Rua Morais e Vale, na Lapa. É nomeado, no ano de 1935, pelo Ministro Gustavo Capanema, inspetor de ensino secundário.
Grandes comemorações marcam os cinqüenta anos do poeta, em 1936, entre as quais a publicação de Homenagem a Manuel Bandeira, livro com poemas, estudos críticos e comentários, de autoria dos principais escritores brasileiros. Publica Estrela da Manhã (com papel presenteado por Luís Camilo de Oliveira Neto e contribuição de subscritores) e Crônicas da Província do Brasil.
Recebe o prêmio da Sociedade Filipe de Oliveira por conjunto de obra, em 1937, e publica Poesias Escolhidas e Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica.
No ano seguinte é nomeado professor de literatura do Colégio Pedro II e membro do Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Publica Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana e Guia de Ouro Preto.
Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. Toma posse em 30 de novembro, sendo saudado por Ribeiro Couto. Publica Poesias Completas, com a inclusão da Lira dos Cinqüent'Anos (também esta edição foi custeada pelo autor). Publica ainda Noções de História das Literaturas e, em separata da Revista do Brasil, A Autoria das Cartas Chilenas.
Começa a fazer crítica de artes plásticas em A Manhã, em 1941, no Rio de Janeiro. No ano seguinte é nomeado membro da Sociedade Filipe de Oliveira. Muda-se para o Edifício Maximus, na Praia do Flamengo. Organiza a edição dos Sonetos Completos e Poemas Escolhidos de Antero de Quental.
Nomeado professor de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de Filosofia, em 1943, deixa o Colégio Pedro II. Muda-se, em 1944, para o Edifício São Miguel, na Avenida Beira-Mar, apartamento 409. Publica Obras Poéticas de Gonçalves Dias, edição crítica e comentada. No ano seguinte publica Poemas Traduzidos, com ilustrações de Guignard.
Recebe o prêmio de poesia do IBEC por conjunto de obra, em 1946. Publica Apresentação da Poesia Brasileira e Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos.
Em 1948 são reeditados três de seus livros: Poesias Completas, com acréscimo de Belo Belo; Poesias Escolhidas e Poemas Traduzidos. Publica Mafuá do Malungo (impresso em Barcelona por João Cabral de Melo Neto) e organiza uma edição crítica das Rimas de João Albano. No ano seguinte publica Literatura Hispano-Americana e traduz O Auto Sacramental do Divino Narciso de Sóror Juana Inés de la Cruz.
A pedido de amigos, apenas para compor a chapa, candidata-se a deputado pelo Partido Socialista Brasileiro, em 1950, sabendo que não tem quaisquer chances de eleger-se. No ano seguinte publica Opus 10 e a biografia de Gonçalves Dias. É operado de cálculos no ureter. Muda-se, em 1953, para o apartamento 806 do mesmo edifício da Avenida Beira-Mar.
No ano de 1954 publica Itinerário de Pasárgada e De Poetas e de Poesia. Faz conferência no Teatro Municipal do Rio de Janeiro sobre Mário de Andrade. Publica 50 Poemas Escolhidos pelo Autor, em 1955. Traduz Maria Stuart, de Schiler, encenado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em junho, inicia colaboração como cronista no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, e na Folha da Manhã, de São Paulo. Faz conferência sobre Francisco Mignone no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Traduz Macbeth, de Shakespeare, e La Machine Infernale, de Jean Cocteau, em 1956. É aposentado compulsoriamente, por motivos da idade, como professor de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de Filosofia.
Traduz as peças Juno and the Paycock, de Sean O'Casey, e The Rainmaker, de N. Richard Nash, em 1957. Nesse ano, publica Flauta de Papel. Em julho visita para a Europa, visitando Londres, Paris, e algumas cidades da Holanda. Retorna ao Brasil em novembro. Escreve, até 1961, crônicas bissemanais para o Jornal do Brasil e a Folha de São Paulo.
Em 1958, publica Gonçalves Dias, na coleção "Nossos Clássicos" da Editora Agir. Traduz a peça Colóquio-Sinfonieta, de Jean Tardieu. Publicada pela Aguilar, sai em dois volumes sua obra completa -- Poesia e Prosa.
No ano seguinte traduz The Matchmaker (A Casamenteira), de Thorton Wilder. A Sociedade dos Cem Bibliófilos publica Pasárgada, volume de poemas escolhidos, com ilustrações de Aldemir Martins.
Em 1960 traduz o drama D. Juan Tenório, de Zorrilla. Pela Editora Dinamene, da Bahia, saem em edição artesanal Estrela da Tarde e uma seleção de poemas de amor intitulada Alumbramentos. Sai na França, pela Pierre Seghers, Poèmes, antologia de poemas de Manuel Bandeira em tradução de Luís Aníbal Falcão, F. H. Blank-Simon e do próprio autor.
No ano seguinte traduz Mireille, de Fréderic Mistral. Começa a escrever crônicas semanais para o programa "Quadrante" da Rádio Ministério da Educação. Em 1962 traduz o poema Prometeu e Epimeteu de Carl Spitteler.
Escreve para a Editora El Ateneo, em 1963, biografias de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Castro Alves. A Editora das Américas edita Poesia e Vida de Gonçalves Dias. Traduz a peça Der Kaukasische Kreide Kreis, de Bertold Brecht. Escreve crônicas para o programa "Vozes da Cidade" da Rádio Roquette-Pinto, algumas das quais lidas por ele próprio, com o título "Grandes Poetas do Brasil".
Traduz as peças O Advogado do Diabo, de Morris West, e Pena Ela Ser o Que É, de John Ford. Sai nos EUA, pela Charles Frank Publications, A Brief History of Brazilian Literature (tradução, introdução e notas de R. E. Dimmick), em 1964.
No ano de 1965 traduz as peças Os Verdes Campos do Eden, de Antonio Gala. A Fogueira Feliz, de J. N.Descalzo, e Edith Stein na Câmara de Gás de Frei Gabriel Cacho. Sai na França, pela Pierre Seghers, na coleção "Poètes d'Aujourd'hui", o volume Manuel Bandeira, com estudo, seleção de textos, tradução e bibliografia por Michel Simon.
Comemora 80 anos, em 1966, recebendo muitas homenagens. A Editora José Olympio realiza em sua sede uma festa de que participam mais de mil pessoas e lança os volumes Estrela da Vida Inteira (poesias completas e traduções de poesia) e Andorinha Andorinha (seleção de textos em prosa, organizada por Carlos Drummond de Andrade). Compra uma casa em Teresópolis, a única de sua propriedade ao longo de toda sua vida.
Com problemas de saúde, Manuel Bandeira deixa seu apartamento da Avenida Beira-Mar e se transfere para o apartamento da Rua Aires Saldanha, em Copacabana, de Maria de Lourdes Heitor de Souza, sua companheira dos últimos anos.
No dia 13 de outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.






Bibliografia:





Poesia:





- A Cinza das Horas - Jornal do Comércio - Rio de Janeiro, 1917




- Carnaval - Rio de janeiro,1919




- O Ritmo Dissoluto - Rio de Janeiro, 1924




- Libertinagem - Rio de Janeiro, 1930




- Estrela da Manhã - Rio de Janeiro, 1936




- Poesias Escolhidas - Rio de Janeiro, 1937




- Poesias Completas - Rio de Janeiro, 1940




- Poemas Traduzidos - Rio de Janeiro, 1945




- Mafuá do Malungo - Rio de Janeiro, 1948




- Poesias Completas (com Belo Belo) - Rio de Janeiro, 1948




- 50 Poemas Escolhidos pelo Autor - Rio de Janeiro, 1955




- Obras Poéticas - Rio de Janeiro, 1956




- Alumbramentos - Rio de Janeiro, 1960




- Estrela da Tarde - Rio de Janeiro, 1960





Prosa:





- Crônicas da Província do Brasil - Rio de Janeiro, 1936




- Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938




- Noções de História das Literaturas - Rio de Janeiro, 1940




- Autoria das Cartas Chilenas - Rio de Janeiro, 1940




- Apresentação da Poesia Brasileira - Rio de Janeiro, 1946




- Literatura Hispano-Americana - Rio de Janeiro, 1949




- Gonçalves Dias, Biografia - Rio de Janeiro, 1952




- Itinerário de Pasárgada - Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954




- De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro, 1954




- A Flauta de Papel - Rio de Janeiro, 1957




- Itinerário de Pasárgada - Livraria São José - Rio de Janeiro, 1957




- Prosa - Rio de Janeiro, 1958




- Andorinha, Andorinha - José Olympio - Rio de Janeiro, 1966




- Itinerário de Pasárgada - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1966




- Colóquio Unilateralmente Sentimental - Editora Record - RJ, 1968




- Seleta de Prosa - Nova Fronteira - RJ




- Berimbau e Outros Poemas - Nova Fronteira - RJ





Antologias:





- Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica, N. Fronteira, RJ- Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana - N. Fronteira, RJ- Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 1, N. Fronteira, RJ- Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Moderna - Vol. 2, N. Fronteira, RJ- Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, N. Fronteira, RJ- Antologia dos Poetas Brasileiros - Poesia Simbolista, N. Fronteira, RJ- Antologia Poética - Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1961- Poesia do Brasil - Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1963- Os Reis Vagabundos e mais 50 crônicas - Editora do Autor, RJ, 1966- Manuel Bandeira - Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar, RJ- Antologia Poética (nova edição), Editora N. Fronteira, 2001





Em conjunto:








- Quadrante 1 - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1962 (com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga)




- Quadrante 2 - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963 (com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga)




- Quatro Vozes - Editora Record - Rio de Janeiro, 1998 (com Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz e Cecília Meireles)




- Elenco de Cronistas Modernos - Ed. José Olympio - RJ (com Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga




- O Melhor da Poesia Brasileira 1 - Ed. José Olympio - Rio de Janeiro (com Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto)




- Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira (seleção de Francisco de A. Barbosa) - Editora Global - Rio de Janeiro)





Seleção e Organização:





- Sonetos Completos e Poemas Escolhidos de Antero de Quental- Obras Poéticas de Gonçalves Dias, 1944- Rimas de José Albano, 1948- Cartas a Manuel Bandeira, de Mário de Andrade, 1958
Multimídia:
- CD "Manuel Bandeira: O Poeta de Botafogo" - Gravações inéditas feitas pelo poeta e por Lauro Moreira, tendo como fundo musical peças de Camargo Guarnieri interpretadas pelo pianista Belkiss Carneiro Mendonça, 2005.
Sobre o Autor:
- Homenagem a Manuel Bandeira, 1936- Homenagem a Manuel Bandeira (edição fac-similar), 1986- Bandeira a Vida Inteira - Edições Alumbramento, Rio de Janeiro, 1986 (com um disco contendo poemas lidos pelo autor).





Dados obtidos em livros de Manuel Bandeira, e nas publicações "Homenagem a Manuel Bandeira" e "Bandeira a Vida Inteira", na Academia Brasileira de Letras e sites da Internet. A versão original desta Biografia de Manuel Bandeira encontra-se no site do Projeto Releituras, cujo link pode ser acessado através deste blog na coluna “Literatura Brasileira”.

Manuel Bandeira: a poesia de uma vida inteira - PARTE 2


01. Introdução:

A poesia de Manuel Bandeira insere-se numa vertente muito sui generis do espírito modernista, uma vez que realiza uma fusão feliz entre a confissão pessoal (individualidade, subjetividade, lirismo) e a vida cotidiana (alteridade, objetividade, impessoalidade). Em suas obras iniciais, “A Cinza das horas” (1917) e “Carnaval” (1919) notamos com facilidade um poeta ainda afeito a certas tendências parnaso-simbolistas e até herdeiro de um certo filão romântico dividir espaço com um poeta capaz de, com ironia e autocrítica, repensar a tradição e inserir as inovações com as quais já estava, naquela altura, “antenado”. Se de um lado, em Bandeira, está marcado (e com que beleza!) o lirismo do EU, de outro, o cotidiano não desaparece de seus textos, numa síntese que estabelece uma relação dialética entre o dia-a-dia mais simples e corriqueiro e os sentimentos pessoais mais sublimes e intensos. Sem negar sua herança lírica, o poeta do Recife saberá negociar a tradição que o constituiu e a inovação que o cercava no início do século XX e, por ser, do chamado grupo paulista (que realizará, em 1922, a Semana de Arte Moderna), o mais maduro e também aquele que primeiro realizou incursões, em poesia, no terreno das novidades sugeridas pelas Vanguardas Européias, Mário de Andrade o nomeou, com justiça, como o São João Batista do modernismo brasileiro. Note como os poemas “Desencanto”, publicado em “A Cinza das Horas” e “Os Sapos”, publicado em “Carnaval” mostram exatamente esse Bandeira inicialmente dividido entre a tradição e a inovação: note, no primeiro poema, o valor que eu lírico confere aos estados emotivos (sem ser piegas, é claro!). Nele, o próprio fazer poético resulta de uma vivência pungente dos mais forte sentimentos; já o segundo texto, imortalizado pela fatídica leitura feita por Ronald de Carvalho durante um dos festivais da Semana de Arte de 1922, Bandeira, encarnando o espírito iconoclasta da arte modernista, atenta contra o até então “sagrado”: o Parnasianismo – e faz isso remetendo o leitor à vida e à obra do poeta Olavo Bilac, em particular, e dos demais parnasianos, em geral.

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo algum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

OS SAPOS

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
"Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

02. Ser “simples” não é ser “simplório”:

Já parece evidente que a poesia de Manuel Bandeira não é nem mero extravasamento do universo interior do eu lírico, nem tampouco cópia ou fotografia do mundo real. É claro, também, que o leitor atento de Manuel Bandeira perceberá que o poeta, muitas vezes se debruçou, sim, sobre o mundo concreto e as questões sociais, distanciando-se eventualmente da expressão do eu, especialmente em alguns momentos emblemáticos dos livros “Ritmo Dissoluto” (1924) e, mormente, em “Libertinagem” (1930), obra mais afinada com o ideário e a linguagem do nosso primeiro modernismo. É interessante notar que este olhar sobre o mundo concreto aproxima o poeta ainda mais das coisas simples. Mas vale sempre lembrar que, em Bandeira, simplicidade é algo que está longe, muito longe de se parecer com pobreza. Bandeira extrai seus temas e até sua linguagem das coisas mais simples e corriqueiras, dando a essas coisas dimensão poética. Os poemas “O Bicho”, “Poema tirado de uma notícia de jornal” e “Irene”, entre tantos outros, retratam bem esse Manuel Bandeira “dissoluto” e “libertino” que parece dar uma pausa breve no lirismo para se debruçar sobre o palpável das coisas sem, contudo, perder a grandiosidade poética:

POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

IRENE

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor
Imagino Irene entrando no céu:
- Com licença, meu branco.
E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Se observado todo o transcurso da obra poética bandeiriana, encontraremos um poeta que, seja lançando mão das mais radicais formas expressivas da vanguarda do século XX, seja fazendo uso das formas clássicas, canonizadas pela tradição do lirismo no Ocidente, Manuel Bandeira “delimita um estilo de absoluta simplicidade”, como bem observou o professor Sergius Gonzaga, que prossegue acerca da simplicidade de Bandeira, classificando-a como “espontânea” e lembrando “que pode parecer até pobreza, mas que constitui uma de suas virtudes. Simplicidade alicerçada num processo criativo dominado pelo subconsciente, no qual não há espaço explícito para a luta pela expressão, para a busca da palavra exata, fenômenos que só ocorrem a poetas que escrevem de acordo com princípios do consciente”. Note a singeleza lancinante de “Poema só para Jaime Ovalle”, no qual a solidão se manifesta pujante sem, contudo abreviar a dignidade emocional do eu lírico de Bandeira, que, em vez de sofrer amarguradamente e mergulhar no mundo piegas da “dor-de-cotovelo”, prefere encarar de frente a solidão, contrapondo a ela os mais felizes pensamentos.

POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE

Quando hoje eu acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

Mas o leitor não se culpe se a simplicidade dos temas e da linguagem de Bandeira, unida à autocrítica (muita vez injusta) do poeta sobre si mesmo, fizer a poética bandeiriana parecer menor do que realmente é. O próprio Manuel Bandeira formulou:

“Tomei consciência de que era um poeta menor; que me estaria sempre fechado o mundo das grandes abstrações generosas; que não havia em mim aquela espécie de cadinho onde, pelo calor do sentimento, as emoções morai de transmudam em emoções estéticas: o metal precioso eu teria que sacá-lo a duras penas, ou melhor, a duras esperas do pobre minério das minhas pequenas dores e ainda menores alegrias”.

03. A vida que podia ter sido

É verdade que a poesia bandeiriana assume um forte caráter confidencial, confessional e, em virtude disso, as referências à biografia do poeta tornam-se importantes, uma vez que vida e obra passam, cada vez com maior intensidade, a se amalgamar. A doença (tuberculose), que impedira a realização de muitos de seus sonhos, a derrocada sócio-econômica da família, o homem maduro e sozinho justificam o “clima de desejo insatisfeito e amargurado que percorre a sua obra”.
A doença faz o Brasil perder um arquiteto e ganhar um de seus maiores poetas. E é exatamente a literatura que salva Manuel Bandeira. É por meio da escritura que Bandeira pode criar universos por meio do verso e viajar por ambientes em que tudo o que não é possível no mundo real se concretiza. A Literatura é a “a vida que podia ter sido e que não foi”. Por meio dela, Bandeira pode criar uma terra em que ele tudo pode, pois lá ele é amigo do rei. Em Pasárgada, os desejos insatisfeitos na vida real se concretizam. É verdade que alguns deles são aparentemente muito simples, mas já vimos que a simplicidade é essência da grandeza de Manuel Bandeira. A antiga cidade persa se transfigura no ambiente utópico, onde um tuberculoso pode tomar banho de mar e deitar na beira do rio; onde a irmã Rosa se transfigura no ser mítico da mãe d’água; onde não reina outro bom-senso a não ser o de Joana de Espanha, a louca; onde o menino franzino e raquítico pode subir em pau-de-sebo e andar de bicicleta; onde as drogas e o erotismo são livres: enfim, onde não há limites sequer entre o mundo do homem e o da criança.

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei da bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

O erotismo, que se faz presente desde o quando o poeta estava caindo em dissolução e ainda não havia se tornado um libertino. Apesar de amado muito as mulheres, isso não significa ter amado muitas mulheres. Na linha do erotismo-fantasia, do erotismo-apenas-desejo, temos o irônico e intenso Balada das três mulheres do sabonete Araxá:

BALADA DAS TRÊS MULHERES DO SABONETE ARAXÁ

As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam.
Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às quatro horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá! (...)
Que eu vivo e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá?
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?
Meu Deus, serão as três Marias?
A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira moresse...Oh, então nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!
Se me perguntassem:
Queres ser estrela? queres ser rei? queres uma ilha no Pacífico? um bangalô em Copacabana?
Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca.
Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá.
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!

Talvez o acumulado dessa vida que podia ter sido e que só foi graças à Literatura (a tuberculose, a derrocada social da oligarquia a que pertencia sua família) justifique certo tom bemol, amargurado que toma de assalto a poética de Bandeira. Parece ser difícil ao poeta esquecer que a vida é uma "agitação feroz e sem finalidade". De que servem os belos desejos? De que servem as belas mulheres? De que serve o belo de tudo se não há outra coisa a desejar a não ser a vida, simplesmente?:

BELO BELO

Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero

Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cuzco

Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisaBelo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.

04. A indesejada das gentes

Seja reflexo de uma crise pessoal, seja pela tensão de conviver com esta idéia desde muito jovem, Bandeira desenvolve continuamente o tema da “indesejada das gentes”: a morte. Não raro o poeta reflete sobre sua própria morte, como em “Consoada”, sobre a morte dos seus entes queridos, como em “Profundamente” e até sobre a morte enquanto fenômeno que transcende o entendimento, como em “Momento no Café”:

CONSOADA

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

PROFUNDAMENTE

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondo de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo Profundamente

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo Profundamente.

MOMENTO NO CAFÉ

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade

Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.

05. O tempo de eu menino

É difícil dizer se a dignidade emocional de Manuel Bandeira a que já nos referimos é o que faz sua poesia ser lírica sem deixar de ser moderna ou se é a modernidade em Bandeira que não permite que seu lirismo venha sob outra forma que não seja a da dignidade. Assim sendo, a tristeza, visitante às vezes costumeira do autor de Estrela da Tarde (1963), não toma, contudo, como bem observou Sergius Gonzaga, “uma direção crepuscular, lamentosa, nostálgica ou doentia”. Ou, como Gilberto Freyre dizia, há em Manuel Bandeira uma conciliação sábia entre, um menino, instintivo e apaixonado pela vida e um velho, lúcido e pessimista. Sergius Gonzaga arremata: “é este menino - habitante do poeta - que esquadrinha os horizontes do cotidiano, que descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes, em pobres quartos de hotel e que, finalmente, concede extraordinária força vital ao texto poético”:

VERSOS DE NATAL

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado! Obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera de Natal
pensa ainda em pôr os seus chinelos atrás da porta.

Evocando a infância, como já fizera em “Libertinagem”, no célebre poema “Evocação do Recife”, no qual vemos ser fundada toda a mitologia pessoal de Bandeira, também em “Porquinho-da-Índia” vemos o menino vencer, belamente, o homem, fazendo-o sorrir:

PORQUINHO-DA-ÍNDIA

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-Índia
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar de baixo do fogão
Levava ele pra sala
Pra lugares mais bonitos, mas limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-Índia foi minha primeira namorada.

06. Amigos

Em uma de suas últimas obras, Bandeira realiza um cantar de amigos, revelando, ora com humor, ora com paixão, a admiração que tinha por aqueles que foram, de fato, a grande companhia de sua existência. Passaram Teodoras, Irenes, Teresas; passaram Totônio Rodrigues, Tomásia, Rosa, Aninha Viegas… ficaram os amigos, cantados em “Mafuá do Malungo” (1954). Admirações que sempre foram recíprocas e constantes são retomadas como as que nutria e recebia dos amigos Carlos Drummond, Guimarães Rosa, A. Frederico Schimidt e tantos outros:

A JOÃO GUIMARÃES ROSA

Não permita Deus que eu morra
Sem que ainda vote em você;
Sem que, Rosa amigo, toda
Quinta-feira que Deus dê
Tome chá na Academia
Ao lado de vosmecê,
Rosa dos seus e dos outros,
Rosa da gente e do mundo,
Rosa de intensa poesia
De fino olor sem segundo;
Rosa do Rio e da Rua,
Rosa do sertão profundo

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Louvo o Padre, louvo o Filho,
O Espírito Santo louvo.
Isto feito, louvo aquele
Que ora chega aos sessent'anos
E no meio de seus pares
Prima pela qualidade:
O poeta lúcido e límpido
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Prima em Alguma Poesia,
Prima no Brejo das Almas
Prima em Rosa do Povo,
No Sentimento do Mundo.
(Lírico ou participante,
Sempre é poeta de verdade
Esse homem lépido e limpo
Que é Carlos Drummond de Andrade).

Como é o fazendeiro do ar,
O obscuro enigma dos astros
Intui, capta em claro enigma.
Claro, alto e raro. De resto
Ponteia em viola de bolso
Inteiramente à vontade
O poeta diverso e múltiplo
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Louvo o Padre, o Filho, o Espírito
Santo, e após outra Trindade
Louvo: o homem, o poeta, o amigo
Que é Carlos Drummond de Andrade.

07. Bandeira par lui-même

Deixo, por fim, amados amigos, queridos alunos e distintos leitores, o próprio Manuel Bandeira falar de si, em três momentos: um, em “Auto-retrato”; outro, em “Testamento” e o último em "Último Poema". Espero que todos possam lançar mais profundos olhares sobre a poesia de uma vida inteira que podia ter sido e que foi. Foi… não a vida de um poeta menor, mas de um poeta menormenorenorme… enorme!

AUTO-RETRATO

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

TESTAMENTO

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

ÚLTIMO POEMA

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.


Caríssimos amigos, alunos e leitores, diante da voz de Manuel Bandeira, meu silêncio!

Abraço n’alma!

Marcos de Andrade Filho
Recife, 29 de novembro de 2007.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Confissão e Elogio a Manuel Bandeira: homenagem aos 90 anos de publicação de "A CINZA DAS HORAS"


Amados amigos, queridos alunos e distintos leitores,


Este ano de 2007 comemora a estréia de Manuel Bandeira na Literatura. No ano de 1917, o fracassado arquiteto, acometido de tuberculose, frustrado pela não concretização dos sonhos, iniciava sua caminhada para realizar seus sonhos por meio do próprio sonho, a verdadeira Pasárgada do poeta: a poesia. Bandeira dava à luz, assim, seu primeiro livro de poemas, "A Cinza das Horas". Falo de Bandeira sempre que posso e este é mais um momento propício ao prazer de falar do que significa para mim a poética bandeiriana.

Manuel Bandeira inaugura o meu paideuma. Curvo-me diante de muitos outros gênios, mas só rezo para uma trindade: Machado é o Pai, Drummond é o filho e Bandeira é o Espírito Santo! Eis aí a alma da poesia brasileira. Digo isso não por ser pernambucano... se fosse bairrismo, eu poderia escolher João Cabral, mas a questão é que Mané toca minh'alma de modo diferente... Bandeira foi meu primeiro alumbramento... E hoje tenho orgulho de ocupar cadeira numa Academia de Letras, Artes e Ciências cujo patrono é o menino que, ainda hoje, brinca na rua da União do meu ser, na encruzilhada da rua da minha mente com a rua da minha alma... no Recife que só eu e Bandeira sentimos... Rezo sempre para esta Bandeira de uma vida que podia ter sido e que Foi! Não Foi! Foi!Poeta libertino e dissoluto, teu verso vive! Bandeira da poesia! Mané vivo! Mané bom! Mané brasileiro como casa de avô!Encontraremo-nos um dia, em Pasárgada! Eu, chegando tímido ainda... Tu, ao lado do teu avô, de Rosa, Totônio Rodrigues, Aninha Viegas, da preta Tomásia, Jaime Ovalle, Teresa, Teodora, Irene, Santa Maria Egipcíaca, e, é claro, das três mulheres do sabonete Araxá! Ah, as três mulheres do sabonete Araxá! Dar-me-ás um sorriso com teu simpático teclado de piano e Debussy vai tocar as mais belas melodias já ouvidas desde a invenção da Lira e os anjos cantarão um poema teu. E eu vou chorar de alegria, Mané, por ser menino n'alma como tu! Recebe na eternidade, meu poetamigo, um abraço de quem te ama!


M a n é

Ao Mestre de Pasárgada



A Bandeira da poesia

é o menino brincando

na rua da União...


Mané...

Bandeira do lirismo pungente...

Mané quer a Estrela da Manhã




O
Beco...

Repleto de elipses mentais.


A Bandeira brasileira

é Mané cantando

a língua errada do povo

Língua certa do povo...


Teu verso libertino vive, Mané!

Teu verso solto



Vive!

É por isso que não sinto, agora, a tua falta.


Teu ritmo dissoluto

me leva


me eleva

às esferas...


A estrela da tarde

é o menino Mané menino

na rua da União...


Equanto no bairro de São José

bradam num assomo:

"Evoé Momo!"

Carnaval!...


Recife...


Bons Ares...

Cavalhadas...


Tango!


Volta a chover

hoje

a chuva resignada

do teu verso

limpo

bailando sob as notas de Ovalle...


É por isso que sinto a tua falta...


Mané

é a Bandeira da vida

que podia ter sido

E que foi! - Não foi! - Foi!


Mané:

Bandeira dos tísicos profissionais,

de tuas horas resta mais que cinza.

Por isso não sinto a tua falta!


Mané,

fazes da existência uma aventura

Aventura inconseqüente de notícia no jornal

Inconseqüência de quem fez versos

como quem vive...


...........................................................................................


Não pensarei nunca que acabaste (não acabaste!).

Tudo em ti é impregnado de eternidade...

Mané...


Bandeira viva!

Mané vivo, Mané bom, Mané brasileiro que nem casa de avô.


Marcos de Andrade Filho

19 de abril de 2000

(Poema publicado pela primeira vez como epílogo da peça "Passos por Pasárgada", de Robson Teles, In: TELES, Robson. Uma casa de idéias. Recife: Bagaço, 2005)
Espero de você mais que a leitura deste poema, mas a leitura do mundo chamado Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho!
Abraços n'alma!
Marcos de Andrade Filho
Recife, 26 de novembro de 2007

sábado, 24 de novembro de 2007

Poesia no ventre do espaço... siderando!


Amados amigos, queridos alunos e distintos leitores,


Nos últimos tempos, tenho procurado, em minhas incursões poéticas, mostrar que pode haver poesia em coisas que nem sempre são encaradas pelas pessoas como "poéticas". Não que eu pense que tudo é poesia, afinal, se tudo fosse poesia, nada seria poesia! Uma coisa só é porque o seu contrário também o é! Daí a grande necessidade da oposição na democracia, do diabo nas religiões e dos adversários nos jogos de futebol (Ah, descupem-me! Prometi que não discutiria essas coisas aqui!).

Voltemos à poesia! Motivado pelo horror que meus alunos sentem em relação a certas disciplinas dedicadas ao estudo das Ciências Exatas e da Natureza, resolvi mostrar que pode existir (e existe!!!) poesia em Matemática, Física, Química, etc. Publico, aqui, um dos resultados dessas minhas novas incursões: um poema erótico (isso mesmo, leitor pasmado - erótico!!!) chamado "FÍSICA".


F Í S I C A


O que me seduz

é teu vórtex sugando minha luz,

enquanto a fusão

de nossas massas

a c e l e r a - s e

acelera-se ao quadrado da velocidade

do que me levas

nas trevas

das tuas entranhas

de buraco no espaço.

No nosso vácuo

- o único em que há

atrito

força de contato

produção de calor

e nenhuma

conservação de energia,

eu Trabalho...

magnetismo puro...

empuxo...

navego em movimento oscilatório

na parábola de tuas ondas

para lançar-me,

oblíquo,

no espaço de teu seio:

o grau 45

de meu olhar 43.


Máximo alcance

é o de minha luz,

meu fóton

no centro

de teu corpo

em


l

i

v

r

e


q

u

e

d

a


onde toda resistência

é só bem-vinda

se resulta na água!


Sobe...

Desces...

Gravitamos elipticamente

Giras ao redor de minha luz!


Sugas-me em prisma multicor

de suor,

sabor

e dor

física!


Marcos de Andrade Filho

Recife, 30 de agosto de 2007


Espero que gostem!

Ah, gostando ou não, comentem e critiquem! Afinal, este espaço também é para isso!


Abraços n'alma!


Marcos de Andrade Filho

Recife, 25 de novembro de 2007

domingo, 18 de novembro de 2007


Amados amigos, queridos alunos, distintos leitores,


Inicio aqui um humilde, porém caríssimo espaço para discutir Artes, Letras, Religião, Política e Futebol (não considerem as três últimas opções!), enfim, aquilo que, na existência, vale a pena (se a alma não for pequena! Grande Fernando Pessoa!). Este é um espaço para trocarmos idéias, pensamentos, bons textos e, é claro, muita, muita poesia! Espero que possamos ter aqui uma Pasárgada a mais (meu eterno amor a Manuel Bandeira!) para renovar as forças e continuar a construir um mundo que se pareça um pouco mais com aquele que guardamos no cerne de nossas almas! Que aqui sejam plantadas flores que possam desabrochar no chão insensível de tantas vidas "cegadas"; que uma flor possa nascer na rua (toda devoção a Drummond!) a partir destas linhas e das que virão a ser escritas, pois hão de conter poesia: sub-estância de toda vida! Bem vindos todos! Amigos, alunos, leitores: razões profundas e reais da minha vinda à vida!


Abraços n'alma!


Marcos de Andrade Filho

Recife, 19 de novembro de 2007

Na sua opinião, o maior poeta (homem) que o Brasil já teve é:

Um não-lugar? Um entre-lugar... Um lugar!: a poesia!!!

Tecnologia do Blogger.

Leituras do Mês

  • "Além do bem e do mal", de Friedrich Nietzsche
  • "As moscas", de Jean-Paul Sartre
  • "Estrela da Vida Inteira", de Manuel Bandeira
  • "Eu", de Augusto dos Anjos
  • "Memorial de Aires", de Machado de Assis
  • "O Fazendeiro do ar", de Carlos Drummond de Andrade
  • "Primeiras Estórias", de Guimarães Rosa

GEOGLOBE

NÃO LUGAR: O MUNDO